—É indubitável que a nostalgia da iniciação «tradicional» explica, em parte, o êxito dos livros de Castañeda. Que julgamento lhe merecem?
—Alguns antropólogos aceitam este testemunho, mas outros negam sua autenticidade. O certo é que sua tese, Os ensinos de um bruxo yaqui, foi aceita na universidade de Los Angeles. Enviou-me as provas para que lhe desse minha opinião, a causa do xamanismo. Eu acabava de dar um curso na Universidade de Santa Bárbara e detive-me alguns dias em Los Angeles. Lamento não ter tido tempo para ler em seguida a tese de Castañeda. Não li o livro até mais tarde. Castañeda já era célebre na época... O que me interessou foi a descrição da sessão em que se «fuma». Ali demonstra que o importante não é o fato de fumar, ou outra droga, a não ser fazê-lo em um espaço consagrado, orientado, qualificado, em uma certa disposição de espírito, em presença de um Mestre. Em uma postura determinada, o fumante terá uma visão, mas não em outra postura. Castañeda, por conseguinte, pôs de relevo a importância do rito, do contexto ritual, e inclusive filosófico, da droga. Vale a pena advertir todos esses jovens que acreditam que o mero fato de fumar drogas leva à felicidade.
Mircea Eliade A Prova do Labirinto