A experiência do sonho, sobrepondo-se e somando-se à das mesas girantes, desempenhou um papel na elaboração das teorias filosóficas de Hugo, cujo conjunto constitui um neopitagorismo, incluindo a crença em reencarnações, em uma cadeia contínua de seres na criação, desde o mineral até Deus, em um sistema de penas e recompensas. É preciso lembrar que todas essas teorias estão claramente formuladas em Ballanche, mas também no curioso relato de antecipação de Sébastien Mercier, L’an 2440, onde é descrita uma religião "do futuro" que é exatamente a de Victor Hugo! Para ver as afinidades das crenças de Hugo com as da Índia, basta lembrar a teoria do "eu latente" que ele formulará no Prefácio filosófico de Les Misérables:
"Um eu latente, fonte e foco de nossas existências sucessivas, raiz de nossos desabrochar alternados, alma central que, após cada uma de nossas mortes, reencontramos nas profundezas do infinito."
definição que corresponde à do atman do hinduísmo (desde que se especifique que esse Eu superior é de essência divina, parte do Brahman).
Em Hugo, paralelamente a essas especulações, a mentalidade mágica aflora: ele está convencido da intervenção constante dos Espíritos, bons ou maus, no curso das coisas. Um pouco como o Nerval de Vers dorés, ele quer acreditar que cada objeto, cada animal, é habitado por uma alma.
E o desejo de reencontrar sua filha mais velha, Léopoldine, o levará a crer que a alma dela pôde se manifestar por meio da mesa girante.
Durante seu longo exílio em Jersey, depois em Guernsey, ele viverá em um universo de sonho acordado, de fantasmas e alucinações. Ele o disse muitas vezes, por exemplo, em uma carta ao poeta belga Franz Stevens em 1856: "Habito nesse imenso sonho do oceano, torno-me pouco a pouco um sonâmbulo do mar." Seus cadernos revelam muitas visitas noturnas: ele vê aparições, frequenta súcubos. Ele não diz nada aos próximos, nem aos criados, mas anota que os que o cercam também ouvem os espíritos que batem, ou registra os sonhos e pesadelos de seus próximos.
Victor Hugo e, sem dúvida, também seu filho Charles eram médiuns surpreendentes, e se, progressivamente, o vazio se fez em torno do poeta em Guernsey, talvez seja, em parte, porque os membros de sua família e de seu círculo ficaram com medo, sentindo que poderia ser perigoso coabitar por muito tempo com um condensador de energia tão poderoso! Juliette Drouet, por morar em outra casa, estava relativamente protegida, e o amor que dedicava a Victor, somado ao seu bom senso, constituíam sem dúvida proteções suficientes.
Para mostrar o lugar que o sonho ocupa na construção do sistema de pensamento de Hugo, é bom citar um texto que figura nas atas das mesas girantes de Jersey, registrado em 29 de abril de 1855. É, supostamente, Platão quem fala, mas é Victor Hugo quem escreve:
A expressão que destacamos basta para confirmar que o autor desse texto é Victor Hugo e não Platão.
Mas se essa página surpreendente já nos informa sobre o que Hugo pensava do sono e do sonho, convém agora examinar os principais textos nos quais ele formulou suas visões sobre o assunto.
Em várias obras de Hugo, encontram-se considerações teóricas ou visões gerais sobre o sonho, e é preciso recorrer em primeiro lugar ao Promontorium Somnii, publicado integralmente apenas em 1937, onde há inúmeras anotações sobre o sonho. O título da coletânea é emprestado de um nome que figurava nos antigos mapas da lua — Hugo toma como ponto de partida uma visita ao Observatório de Paris — e o nome do cabo ou da montanha da lua servirá de trampolim para suas considerações:
"Esse promontório do Sonho, do qual falamos, está em Shakespeare, está em todos os grandes poetas [...] Esse promontório do Sonho às vezes submerge com sua sombra todo um gênio, Apuleio outrora, Hoffmann em nossos dias. Ele preenche uma obra inteira, e então isso é temível, é o Apocalipse. Os vértigos habitam essa altura. Ela tem um precipício, a loucura. Uma das encostas é feroz, a outra é radiante. Em uma está João de Patmos, na outra Rabelais. Pois há a tragédia do sonho e há a comédia do sonho."
Mais adiante, Hugo questiona o desdobramento que ocorre no sonho:
"O adormecimento do corpo é um despertar de faculdades desconhecidas, e nos coloca em relação com seres dotados dessas faculdades, que não são perceptíveis ao nosso organismo quando o animal o complica, ou seja, quando estamos de pé, indo e vindo em plena vida terrestre? Os fenômenos do sono colocam a parte invisível do homem em comunicação com a parte invisível da natureza? Nesse estado, os seres ditos intermediários dialogam conosco? Brincam conosco? Brincam de nós?"
Em seguida, é tanto a si mesmo quanto aos leitores que o poeta lança um grave aviso:
"... não esqueçam isto: é preciso que o sonhador seja mais forte que o sonho. Caso contrário, perigo. Todo sonho é uma luta. O possível não aborda o real sem uma misteriosa cólera. Um cérebro pode ser roído por uma quimera."
E ainda:
"... todas as regiões do sonho devem ser abordadas com precaução.
Essas incursões na sombra não são sem perigo. O devaneio tem seus mortos, os loucos. Encontram-se aqui e ali nessas obscuridades cadáveres de inteligências, Tasso, Pascal, Swedenborg. Esses escavadores da alma humana são mineiros muito expostos. Acidentes ocorrem nessas profundezas. Há explosões de grisu."
Em Les Travailleurs de la mer (1866) (I, I, VII) há um capítulo intitulado "A maison visionnée habitant visionnaire" no qual Hugo, de maneira pouco verossímil, atribui a Gilliat reflexões sobre o sonho que refletem mais seus próprios pensamentos do que os que seria permitido atribuir a seu personagem — e esse texto é, em parte, uma retomada, transposta, da página inicial da Aurélia de Gérard de Nerval:
À imagem do "subterrâneo vago que se ilumina pouco a pouco etc." proposta por Nerval, Victor Hugo substitui a do aquário, que será retomada por Rimbaud.
Em L’Homme qui rit (1869), o espetáculo da cidade de Portland adormecida (I, III, 4) é ocasião para observações sobre a mistura de sonhos que pesa sobre uma coletividade adormecida:
"Esses silêncios de formigueiro paralisado emanam vertigem. Todas essas letargias misturam seus pesadelos, esses sonos são uma multidão, e desses corpos humanos prostrados sai uma fumaça de sonhos. O sono tem vizinhanças sombrias fora da vida; o pensamento decomposto dos dorminhocos flutua sobre eles, vapor vivo e morto, e se combina com o possível que também pensa provavelmente no espaço. Daí os emaranhados. O sonho, essa nuvem, sobrepõe suas espessuras e transparências a essa estrela, o espírito. Acima dessas pálpebras fechadas onde a visão substituiu a vista, uma desagregação sepulcral de silhuetas e aspectos se dilata no impalpável. Uma dispersão de existências misteriosas se amalgama à nossa vida por essa borda da morte que é o sono. Esses entrelaçamentos de larvas e almas estão no ar. Mesmo quem não dorme sente pesar sobre si esse meio cheio de uma vida sinistra. A quimera ambiente, realidade pressentida, o incomoda."
Vê-se que, em todos os textos citados, Hugo considera que o sonho coloca o homem em comunicação com o mundo invisível. Mas nota-se também que não é sem temor e tremor que ele aborda o universo misterioso do sonho.
*PS: RICHER, Jean. Aspects ésotériques de l’œuvre littéraire: Saint Paul, Jonathan Swift, Jacques Cazotte, Ludwig Tieck, Victor Hugo, Charles Baudelaire, Rudyard Kipling, O.V. de L. Milosz, Guillaume Apollinaire, André Breton. Paris: Dervy-livres, 1980.
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