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Calasso (NCH) – Odisseu (3)

terça-feira 23 de julho de 2024

Só entre os chefes aqueus Odisseu mantém os olhos baixos. Não por medo. Ao abaixar os olhos, Odisseu concentra a mente, isolando-a do resto, como seus companheiros não estão habituados a fazer  , urde uma trama, dá forma   a uma mechane. E o oposto do homem   continuamente oprimido entre forças, entre máquinas, entre as mechanai da natureza   e dos deuses. Àquele invisível novelo Odisseu agrega novas mechanai, mas desta vez elaboradas por ele. Agora conhece o segredo  , não deve apenas suportar consequências. Assim, aumenta a confusão dos elementos e depois disso se aproveita para fugir das armadilhas. A frontalidade do herói não o atrai. Odisseu recua um   passo rumo à mente tortuosa de Cronos para tomar impulso e lançar-se para além do herói. Quando os heróis   estiverem mortos ou ultrapassados, Odisseu continuará olhando para o mar   do qual espera a morte  , fantasiando retomar a viagem, quem sabe em direção à terra onde os homens não conhecem o sal.

Odisseu e Édipo  , os mais inteligentes na galeria dos heróis, foram mortos e mataram por engano. O primeiro foi morto pelo filho   Telêgono, que não o reconheceu; Édipo mata o pai   Laio, sem o reconhecer. Em ambos os casos por uma briga fútil: pela precedência numa encruzilhada, porque os guardiães do palácio de Itaca discutem com um desconhecido  . A lucidez de Odisseu e de Édipo exala em torno deles uma opaca névoa assassina.

(CalassoNCH)