Os mitos não morrem, como acreditavam os racionalistas e seus seguidores. Seria mais correto dizer que simplesmente se transformam, pois há algo mais além do conteúdo contingente do mundo e do conhecimento que possuímos sobre ele. Há o coração do mundo, elevado acima da contingência e da não-contingência no sentido comum desses termos. O coração do mundo não é apenas algo que pode ser objeto de um saber filosófico, mas algo com o qual nos relacionamos com todo o nosso ser, algo que narramos (…)
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Patocka
Jan Patocka (1907-1977)
Matérias
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Patocka – venda da alma imortal? (Fausto)
3 de julho, por Murilo Cardoso de Castro -
Patocka – Digressão sobre a tragédia ática
2 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA tragédia ática expressa de maneira nova uma intuição homérica muito antiga: por mais forte, por mais semelhante aos deuses que seja, não é permitido ao homem transgredir a lei suprema, sob pena de cair fora de seu papel em uma queda tanto mais cruel quanto mais alto seu destino o tiver elevado. A consciência desse interdito é agora abordada sob um ângulo diferente, em uma nova luz dada pela relação com a sociedade, com a comunidade, com a coletividade humana em geral. É aí, nessa nova (…)
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Patocka – Fausto de Thomas Mann
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA solução goethiana da questão de Fausto, solução que rejeita a venda da alma imortal como impossível, nos conduz assim a uma outra versão ainda, quase contemporânea, da mesma lenda. Faz apenas vinte e cinco anos que Thomas Mann publicou seu Doutor Fausto, que tentaremos agora confrontar, como terceira figura fundamental, às duas precedentes. Partiremos mais uma vez da situação histórica que ali se reflete.
A situação comporta mais uma vez um “império germânico”, que se apresenta, no (…) -
Patocka – Fausto de Goethe
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroTanto no Volksbuch quanto em Marlowe, em sua primeira versão poética, a história de Fausto permanece ao mesmo tempo uma lenda explicitamente alemã, situada com precisão em um lugar do mundo e um ponto no tempo. A unidade da cristandade não existe mais. Os países das fronteiras ocidentais se libertam abertamente dos laços impostos pela autoridade e pelo poder espiritual. No entanto, mesmo na fragmentação e no caos do período da Reforma, o Sacro Império Romano permanece fundamentalmente (…)
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Patocka – Antígona e a lei
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroVamos tentar traduzir a mensagem de Sófocles em uma linguagem compreensível para os homens de hoje. Vamos tentar levar a sério mesmo o que à primeira vista nos parece não apenas estranho mas chocante: o culto aos mortos que supera o respeito pelos vivos, o risco da própria vida pelos costumes e ritos, a crença nos oráculos e nos deuses. A mensagem de Sófocles é eminentemente simples, mas é precisamente isso que complica a tarefa de compreendê-la. Outra dificuldade reside no fato de que o (…)
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Patocka – Antígona, não autonomia do sentido e do mundo humanos
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroAntígona é, portanto, uma confirmação mítica da não autonomia essencial do sentido e do mundo humanos. A atestação da dependência do homem, de sua finitude fundamental, de sua crise e de seu errar na questão do bem e do mal, faz parte da essência do mito autêntico. O mito tal como o homem moderno o compreende é, por outro lado, um mito essencialmente falseado. O pensamento racionalista tem razão em se insurgir contra o mito na medida em que toma essa falsificação como alvo de seus ataques. O (…)
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Patocka – compenetração do dramático e do épico
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroÉ portanto a essa época [Antiguidade grega] que remonta o apoio recíproco, a compenetração teórica e prática do dramático e do épico, do drama e do épos. Apoio e compenetração para os quais a objetividade épica é o próprio solo da formação poética do destino humano, sem o qual a criação dramática tampouco poderia, de maneira verdadeiramente artística, captar, conhecer e explorar a fonte autônoma de sentido que lhe é própria. O vínculo estreito dos dois vai tão longe que, no fim mesmo dessa (…)
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Patocka – linguagem e escrita
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO próximo passo da dialética pela qual o homem se torna expressamente um ser vivente espiritualmente, ou seja, em uma relação explícita e consciente com o mundo, é a escrita, a fixação da expressão verbal. A necessidade de fixação é muito antiga, primordial, como se depreende da estereotipia da narração inicialmente oral, da precisão ritual com que os mitos são transmitidos, das figuras que facilitam a recitação e a memorização. Com a escrita, que transforma a fala em algo que pode ser (…)
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Patocka – linguagem e fala
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroA linguagem, traço distintivo do homem (nenhum animal possui linguagem no sentido de um meio de entendimento com um teor de significação), cristaliza-se originalmente a partir da fala, da atividade de falar, sendo esta inseparável de uma situação de fala. A situação de fala é o que determina o sentido do que é dito, o que localiza a significação no tempo e no espaço, relacionando-a a tais ou tais pessoas cuja presença é dada a entender pelo contexto. Na origem, a fala é parte integrante de (…)
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Patocka – O escritor e seu "objeto"
3 de julho, por Murilo Cardoso de CastroO descontentamento da intelligentsia, sua nova consciência de si, suas reivindicações, seu agrupamento e solidariedade aparecem como os primeiros indícios de uma época nova da qual ainda não sabemos se trará uma superação da crise assinalada em quase todos os domínios pela impotência da razão diante do absurdo, cuja persistência a realidade presente traduz. Muitos, vendo nesses fenômenos novos apenas o que lembra a agressividade da desrazão, as paixões cegas, a "plebe" no sentido tradicional (…)
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