Berdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Crime e Castigo foi concebido de forma diferente. O destino humano não se resolve ali na coletividade, na atmosfera ardente das relações humanas: é frente a frente consigo mesmo que Raskolnikov descobre os limites da natureza humana, é sobre sua própria natureza que ele faz suas experiências. O "tenebroso" Raskolnikov ainda não é um "enigmático" como Stavroguin ou Ivan. Ele representa um estágio menos avançado na estrada do arbítrio (…)
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Dostoiévski
Dostoevsky, Fyodor (1821-1881)
Matérias
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Dostoiévski – "Crime e Castigo" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de Castro -
Dostoiévski – Os Demônios (Arendt)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroARENDT, H. Pensar sem corrimão: Compreender (1953-1975). Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2021.
TODA OBRA-PRIMA PODE ser lida em vários planos, mas para que seja considerada uma obra-prima é preciso que todos os fios estejam organizados de maneira a formar uma unidade consistente em cada plano. Sobre Os demônios pode-se dizer que se trata, no plano inferior, e no entanto indispensável, de um roman-à-clef, em que tudo e todos podem ser verificados. A trama é retirada diretamente dos (…) -
Dostoiévski – Os Demônios (2) (Arendt)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroARENDT, H. Pensar sem corrimão: Compreender (1953-1975). Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2021.
No segundo plano, que de forma geral é o aceito, Os demônios é uma explicação ou profecia do que realmente aconteceu: o ateísmo provocaria a queda do regime czarista. O ateísmo erodiu um governo cuja autoridade se assentava “na graça de Deus” e que perdeu legitimidade quando os homens deixaram de acreditar em Deus. Chátov declara que “Para começar uma rebelião na Rússia, é preciso que se (…) -
"O Adolescente" de Dostoiévski
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroELTCHANINOFF, M. Dostoïevski, roman et philosophie. Paris: Presses universitaires de France, 1998.
O que primeiro salta aos olhos do leitor é o aspecto caótico, quando não confuso, de sua arte [de Dostoiévski]. O Adolescente, seu penúltimo romance, é um dos melhores exemplos disso. Trata-se, sem dúvida, do mais desenfreado e desordenado de todos. Sem nos alongarmos nos inúmeros detalhes dessa história tão complicada, digamos que a narrativa, embora centrada no jovem herói, que nos (…) -
Dostoiévski, uma nova ciência do homem (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Dostoiévski é, antes de tudo, um grande antropologista, um experimentador da natureza humana. Ele descobre uma nova ciência do homem e aplica a ela um método de investigação até então desconhecido. A ciência artística – ou, se preferirmos, a arte científica de Dostoiévski – estuda a natureza humana em seus abismos sem fundo, em sua extensão sem [51] limites, expondo suas camadas mais profundas e mais ocultas. Trata-se de uma experiência (…) -
Memórias do Subsolo, de Dostoiévski
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroPhenomenology of Life in Border Situations: The Experience of the Ultimate (Husserliana89)
Memórias do Subsolo, de Dostoiévski, é uma crítica devastadora à fé na razão – ou, mais precisamente, à fé na razão instrumental, aquela que nega nossas paixões ou suprime uma parte essencial de nós mesmos. Para Dostoiévski, é assim que perdemos nossa humanidade. A descrição que o homem do subsolo faz da vingança evidencia a crença do autor na hierarquia das paixões. "Quando estão possuídos, digamos, (…) -
Dostoiévski – "O Idiota" (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
A concepção do Idiota opõe-se à do Adolescente e dos Demônios. Em O Idiota, a ação não se dirige para a figura central, o príncipe Míchkin, mas, ao contrário, parte dele em direção aos outros personagens. É Míchkin quem resolve o enigma de todos, especialmente o das duas mulheres, Aglaia e Nastácia Filíppovna. Ele as auxilia, repleto de pressentimentos proféticos e de clarividência intuitiva. As relações humanas são a única questão à qual (…) -
Dostoiévski e sua época (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Dostoiévski surge em outra época do mundo, em outro estágio da humanidade. Nele também o homem deixou de pertencer a essa ordem cósmica objetiva à qual pertencia o homem de Dante. Durante o período moderno, o homem tentou se fixar na superfície da terra, se encerrar em um universo puramente humano. Deus e o diabo, o céu e o inferno haviam sido definitivamente repelidos para a esfera do incognoscível, sem comunicação com o aqui-embaixo, até (…) -
Dostoiévski foi um realista? (Berdiaeff)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroBerdiaeff, L’esprit de Dostoïevski. (1945) [1974]
Dostoiévski foi um realista? Antes de elucidar essa questão, é preciso perguntar em [26] que medida uma arte original e grandiosa pode ser realista? Sem dúvida, o próprio Dostoiévski gostava de se intitular como tal e considerava que seu realismo era o próprio realismo da vida. Ele certamente não entendia essa palavra no sentido em que a crítica oficial a toma quando afirma a existência de uma escola realista cujo líder seria Gógol: nada (…) -
Dostoiévski – Os Demônios (3) (Arendt)
30 de março, por Murilo Cardoso de CastroARENDT, H. Pensar sem corrimão: Compreender (1953-1975). Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2021.
Num terceiro plano, que claramente era o de Dostoiévski, abordamos a mesma questão do ateísmo, mas de forma muito mais séria: o tema central em toda a obra de Dostoiévski não é a existência ou não de Deus, mas a possibilidade de o homem viver sem acreditar em Deus. Antes, porém, de discutirmos isso, devemos notar que essa questão leva dúvida à crença – não de fora, como faz a ciência (em que (…)