Litteratura

Página inicial > Obras e crítica literárias > Jacques Masui – a experiência de Daumal e a Índia (sânscrito)

Jacques Masui – a experiência de Daumal e a Índia (sânscrito)

terça-feira 1º de julho de 2025

Daumal   poeta, concedia uma grande importância à linguagem  . Encontrou no sânscrito não somente a língua lhe permitindo chegar diretamente aos textos que tinha necessidade  , mas também a língua que, por excelência, exprime da maneira mais concreta, as realidades espirituais. Não se deve duvidar que o profundo conhecimento   que dela adquiriu, o ajudou fortemente a se aproximar destas realidades e a fazê-las viver nele.

Em várias ocasiões, me escreveu que considerava a língua sânscrita como o monumento principal da Índia. Deixou claro seu pensamento a este respeito em uma carta inédita a A. Rolland de Renéville, da qual extraímos a seguinte passagem:

... a grandeza própria da velha civilização indiana, é de ter desenvolvido a limites extremos a expressão pelas palavras daquilo que as palavras não podem senão concernir de longe: no domínio das palavras, os velhos hindus giram como os outros ao redor do pote, mas uma pouco mais próximo. É porque a cultura hindu levou tão longe a técnica verbal, e em uma língua que é, no fundo, a nossa, que seus documentos literários podem ser   tão perigosos e tão preciosos para nós, que somos comidos pelas palavras (não digo isto levianamente: há alguns dias, vi um   senhor «culto» a quem se mostravam coisas simples, mas incomuns, e como não encontrasse palavra para lhe servir de "óculos", não viu nada   mesmo: as palavras tinham tomado o lugar de seus olhos. Notastes também como uma montanha   parece mais assustadora do momento que se a nomeia; e é bom   fazê-lo com uma meta consciente  ; mas o fazemos sempre sem o saber).

A maneira que Daumal pensava que se deveria traduzir as velhas escrituras védicas é muito interessante. Ele a explicava em uma nota que acompanha seu esboço de tradução da Mandala XI do Rig-Veda. Resumidamente, ele dizia que devemos nos aproximar destes textos com uma mentalidade ingênua e não aí introduzir nossas categorias mentais de homem   ocidental do século XX. Ele considerava o Veda como relatos de crianças mas de crianças salvas, espontaneamente iluminadas; nas quais a Memória   falava pela primeira vez. Portanto, é preciso traduzir o mais simplesmente possível e não perdendo jamais de vista que estes escritos não demonstram um conhecimento intelectual.

Depois do estudo   da língua sânscrita (que contou com a ajuda de Philippe Lavastine) abordou sua retórica e aí também fez descobertas que sacudiram todas as noções aprendidas em Aristóteles. Para todas as disciplinas, o hindu, na época clássica, se prepara longamente mesmo se não tem senão uma única palavra a proferir. É a natureza   desta preparação do tom, onde se deve engajar por inteiro, que apaixonava Daumal. Ensaiou fazer   compreender a seu amigo   íntimo André Rolland de Renéville (v. Daumal Produção Literária - Produção Literária), em que consistia esta preparação no domínio literário, desejando utilizar as regras sânscritas para seus próprios escritos.


Ver online : Hermes - Recherches sur l’expérience spirituelle